Fonte: http://seculodiario.com.br

A estratégia do governador Paulo Hartung (PMDB) de tentar tornar a paralisação geral dessa quinta-feira (13) "invisível" não deve enfraquecer o movimento dos trabalhadores por revisão anual dos salários e melhores condições de trabalho. Na paralisação de ontem, 90% das categorias do serviço público paralisaram as atividades em mobilização que envolveu cerca de 40 mil servidores, segundo os sindicatos, que foi ignorada tanto pelo governo quanto pela mídia corporativa.

De acordo com o diretor do Sindicato dos Servidores Públicos do Estado (Sindipúblicos-ES), que é uma das 19 entidades que compõem o Fórum das Entidades de Servidores Públicos do Estado (Fespes), Haylson de Oliveira, é o perfil do governador ignorar as demandas dos servidores, mas neste mandato ele não está na mesma condição política dos anteriores, quando teve espaço para posar de “salvador da pátria”. “Hoje a situação não é mais essa, tem o questionamento da sociedade”, questiona o sindicalista.

Haylson acrescenta que o governo atual está mais fragilizado e a população está sentindo o sucateamento do serviço público. “O governo está dando um tiro no pé, primeiro mandando carta que irritou todo mundo, depois a secretária [de Fazenda, Ana Paula Vescovi] dá entrevista dizendo que não haverá reajuste e por último pelo controle da mídia”, diz Haylson.

A carta a que Haylson se refere foi enviada aos servidores junto com o contracheque de julho explicando os motivos que impedem o governo de conceder qualquer reposição, neste momento, à categoria.

O governador Paulo Hartung (PMDB) advertia na carta que o momento é de buscar o equilíbrio financeiro das contas do Estado, mantendo os recursos para o pagamento da folha do funcionalismo em dia.

Os servidores interpretaram o recado do governador como uma ameaça. Nas entrelinhas, o governador estaria avisando que manutenção dos empregos e pagamento dos salários em dia deve ser considerada um privilégio neste momento de crise.

O presidente da  associação dos Auditores de Controle Externo do Estado (Ascontrol), entidade que também integra o Fespes, Rafael Lamas, reforça que a carta enviada foi uma ameaça velada. No entanto, para ele, é difícil o Estado continuar com o discurso da crise quando toda a informação sobre as finanças do Estado passa também pelos servidores.

Ele aponta que o Banestes teve lucro líquido de R$ 85 milhões no último semestre, que a Companhia Espírito Santense de Abastecimento (Cesan) também vem batendo recorde de lucro e que o Estado é considerado seguro para investir, segundo a Secretaria do Tesouro Nacional (STN).

Lamas ressalta que os servidores e dirigentes de entidades representativas não têm se intimidado diante das investidas do governo. Segundo ele, os servidores percebem que falta transparência por parte do governo em relação às finanças, mas estas informações chegam por outros meios e, quando questionado, a estratégia do governo é recuar e sair de cena. “Sumiram o governador, os presidentes do Tribunal de Justiça, do Tribunal de Contar e o procurador-chefe do Ministério Público”, afirma Lamas.

O presidente da Ascontrol também aponta para a discrepância entre os benefícios pagos a membros do governo e do judiciários em detrimento da falta de concessão de revisão aos servidores. Ele conta que estes membros recebem, além do salário, auxílio alimentação, moradia, plano de saúde, dentre outras benesses. O servidor sequer tem a reposição das perdas inflacionarias. “Não quero auxílio, mas um salário digno condizente com a função.

Rafael Lamas aponta que a população está atenta e esclarecida e não concorda com o que é errado.

O Fespes vai voltar a se reunir para definir novas datas de manifestações e assembleias. Segundo Haylson Oliveira, caso haja greve geral no próximo dia 24, ela será feita depois de todo um processo de mobilização. “Não queremos somente decretar greve, mas que ela seja executada e discutida com a população”.